A criança entra em contato com os números desde muito cedo. No contexto familiar e social: sua idade, número de sua casa ou telefone, número do seu canal de televisão preferido ou do andar onde mora, etc. Esse contato, embora informal, é de grande importância, pois oferece condições de familiarização com o conceito, e a criança começa a estabelecer suas primeiras hipóteses a respeito do processo de representação de quantidades.
Número está no plano abstrato, na relação entre os objetos, situações ou ações, e o professor será fundamental nesse processo, propiciando situações que permitam e facilitem a construção do número.
Ele deve levar a criança a construir todas as relações possíveis entre os objetos, nas construções do seu próprio brincar: agrupar objetos por suas semelhanças; fazer classificações simples e em série; comparar tamanhos: maior, menor, igual etc.
No processo da construção do conceito de número, destacam-se algumas noções básicas a seguir:
Classificação
É agrupar segundo um critério, separar objetos por suas semelhanças e/ou diferenças reunindo todos os que se parecem em um atributo, separando-os dos que dele se distinguem neste mesmo atributo.
Podemos classificar figuras geométricas (cor, forma, tamanho); utensílios de cozinha (utilidade); livros de história (gênero); animais (espécie); frutas (tipo); secos e molhados; insetos; figurinhas; materiais escolares; botões (número de furos, tamanho, cor); enfim, tudo aquilo que for da vivência da criança.
A criança domina a estrutura da classe quando é capaz de incluir classes em classes; quando reúne mentalmente um conjunto de objetos, animais e pessoas. Por exemplo, em um cesto de frutas, solicitar que a criança separe as laranjas das demais frutas, ou ainda, apresentar várias peças de blocos lógicos e pedir que as crianças separem conforme a forma, ou agrupar as peças circulares, classificar os brinquedos que mais gosta de brincar e os que não gosta, na arrumação dos brinquedos após as atividades.
O professor deve sempre auxiliar a criança para que perceba semelhanças e diferenças entre os objetos que serão classificados.
Seriação
Significa colocar em série, em ordem. Podemos seriar com materiais diversos, tais como: blocos lógicos, botões, palitos, tampinhas e com os próprios alunos, estabelecendo relações do tipo: maior que, menor que, mais pesado que, menos pesado que, mais que, menos que. Seriar coisas conforme a cor, do mais claro ao mais escuro; fazer sequências lógicas em cartões (histórias); sequências de posições e de atividades; seriar pela espessura, pelo peso e pela idade...
As atividades de seriação visam à percepção das relações entre os objetos e suas diferenças, bem como a lógica que os organiza. Desenvolvem o raciocínio lógico – matemático bem como a compreensão do sistema numérico, e devem ser trabalhadas variando em tipo e em complexidade.
A criança está seriando quando brinca com carrinhos e os coloca em fileira por cor, ou outros atributos; quando faz fila do menor para o maior está seriando pelo critério tamanho. Crianças menores só conseguem estabelecer séries com poucos elementos, conforme amadurecem passam a formar mentalmente séries com maior quantidade.
Pode-se iniciar com objetos diferentes em um só atributo, depois ir graduando a quantidade de atributos. Nas atividades com seriação podem-se explorar os conceitos de primeiro, último; antes, depois; frente, atrás; etc.
Correspondência biunívoca
É a correspondência também chamada um a um, ou seja, cada elemento do primeiro conjunto deverá corresponder a um e somente um elemento do segundo conjunto que também será esgotado. Podemos fazer correspondência com bonecas e camas; xícaras e pires; meninos e bonés; bonecas e vestidos; cães e ossos; cartazes com encaixes para figuras; para cada dedo, um anel; a cada caixa a sua tampa; a cada aluno uma carteira (correspondências um a um), existem também correspondências de vários a um ou de um a vários, tais como: uma criança corresponde vários irmãos ou várias crianças a uma mãe.
Podemos elaborar atividades que solicitem, por exemplo, a correspondência de uma quantidade a um numeral, a cada posição um numeral e assim por diante. Quando a criança brinca de faz de conta e arruma a mesa colocando uma colher para cada prato, está estabelece uma relação e descobre a estrutura de correspondência. Através de atividades que envolvem correspondência, a criança pode vir a perceber a equivalência de conjuntos que tem a mesma quantidade de componentes.
A correspondência é um processo necessário para a construção do conceito de número e das operações. Quando a criança mostra dificuldades na aprendizagem da matemática, pode ser pelo fato de não ter compreendido o processo de correspondência na sua totalidade.
Sequenciação
É o ato de fazer suceder a cada elemento outro sem considerar a ordem entre elas, isto é, sem qualquer critério, como por exemplo, colocar várias bolinhas, carrinhos ou outros objetos em fila ou cantar números em jogo de bingo.
Conservação da quantidade
A criança conserva a quantidade no momento em que ela reconhece que o número de elementos de um conjunto não varia, quaisquer que sejam as maneiras como se agrupam esses elementos. Podemos organizar duas fileiras de botões, tampinhas, bolinhas, fazendo a correspondência termo a termo. Depois se modifica a posição dos mesmos e questionamos a criança perguntando se nas duas fileiras tem a mesma quantidade.
A conservação só é atingida quando a criança é capaz de conceber que uma quantidade permanece a mesma, seja qual for a disposição dos elementos que a compõem. É saber que o número de um conjunto de objetos pode apenas ser mudado por adição ou subtração.
Sugestões de atividades de quantificação
Uma das primeiras ideias é a de quantidade e ou número e a contagem está associada à ideia de número. Em geral as crianças praticam a contagem de rotina, isto é, dizem os nomes dos numerais em seqüência: um, dois, três, etc, em um processo mecânico, o que chamamos de “contagem mecânica”. Isto não significa que já tenham construído o conceito de número ou de quantidade. Antes de escrever os numerais, é preciso desenvolver muitas atividades com as crianças para que elas elaborem esta construção.
- Quantificar objetos variados, nas mais diversas situações.
- Rodas de contagem que estimulem a busca de estratégias que facilitem a identificação de quantidades.
- Em uma atividade com palitos de sorvete, solicitar que uma criança entregue a um colega a mesma
quantidade de palitos que recebeu.
- Agrupar objetos em quantidades diferenciadas de um a nove.
- Solicitar a um sinal que as crianças se agrupem nos grupos compostos pela quantidade solicitada.
- Solicitar a uma criança que distribua a mesma quantidade de algum objeto para todos do seu grupo, estabelecendo uma correspondência entre eles.
- Registro do número de certos objetos presentes na sala de aula.
- Na hora do lanche, estimular para que efetuem contagem do número de crianças e cadeiras para sentar e também os pratos, talheres e canecas necessárias.
- Promover em pequenos grupos a seguinte atividade: de olhos fechados o aluno deve retirar de uma caixa e de uma só vez, a quantidade de tampinhas mais próxima de dez que conseguir, as quantidades serão registradas e comparadas para ver quem mais se aproximou da quantidade.Esta atividade pode ser adaptada solicitando-se qualquer quantidade.
- Solicitar que os alunos contem o número de meninos e meninas que existem na sala.
Sugestões de atividades para o professor
Considerando que a falta de noção de número impede a compreensão das relações numéricas podemos organizar uma seqüência de atividades relacionadas com a vida cotidiana da criança, para que a construção numérica tenha sentido, favorecendo assim o estabelecimento de diversas relações:
- Encorajar as crianças a quantificar objetos logicamente e a comparar conjuntos em atividades como a de levar lápis para todos os colegas do grupo em que ela senta.
- Organizar cinco, dois ou três grupos com as cadeiras da sala.
- Comparar o grupo de meninos e meninas. - Distribuição das merendas, observando como realiza esta tarefa, desafiando-a a distribuir de forma igual para todos os colegas certa quantidade de biscoitos, bolo, balas, pirulitos etc.
- Propor a ida a um supermercado onde cada criança terá a tarefa de comprar pirulitos ou balas para certa quantidade de pessoas, observando como realiza a compra e se usa a relação termo-a-termo para efetuar a compra.
- Construção de gráficos sobre as letras do nome, a quantidade de pessoas da família, meio de transporte utilizado para ir à escola, mês de nascimento, idade, altura, cor dos olhos, cabelos etc.; explorando e analisando com os alunos os dados obtidos.
- Explorar a escrita e a leitura do nome, em que as crianças devem identificar cada letra do seu nome, recortando-as e destacando-as. Reconstruir a escrita do nome colando as letras com o apoio de um pequeno crachá, ordenado-as em correspondência termo-a-termo. Quantificar as letras do nome separando com o apoio na correspondência termo-a-termo, um palito de picolé ou forminha de doce para cada letra do nome, estabelecendo relações do tipo: Quantos palitos ou forminhas recebeu? Quantos ganhou? Quantos faltam? Quantos sobram? Quem ganhou mais, menos, a mesma quantidade? Nesta atividade pode-se realizar um jogo de memória com os palitos ou forminha, tentando formar o seu nome e explorando os mesmos aspectos que foram descritos acima.
- Construção de um álbum do nome mostrando quais as diversas maneiras com que podem mostrar quantas letras tem o seu nome.
- Para crianças de 2 a 3 anos uma atividade interessante é construir uma chamadinha com um desenho duplicado de bicho de EVA para cada criança, exemplo dois cachorros, dois macacos, dois tigres etc. A cada dia pode-se fazer a chamadinha de uma maneira; com os desenhos virados para baixo onde a criança tem de achar o seu (tipo jogo da memória), ou virados para cima bem misturado e solicitar que achem os dois bichos que são seus. Ou ainda, enfileirar os desenhos e recolher um dos desenhos e solicitar que descubram qual está faltando.